Plateia atenta, pouco espaço ao redor dos palcos. O domingo (25), que encerra a primeira etapa do Rock in Rio, foi o dia em que o público realmente assistiu aos shows. Não que nos outros dias não fosse assim, mas a programação coesa – com exceção do fraquíssimo Gloria – fez com que os fanáticos por metal arredassem pouco o pé e, braços em riste, comemorassem cada pancada nas guitarras, seja no palco Sunset – com Sepultura, Angra, Korzus e Matanza – ou no sucesso que foi o palco Mundo, coroado pela performance arrasadora do Metallica.
No caminho para o festival, religiosos tentavam "evangelizar" os roqueiros que chegavam. Se deu resultado ou não, a verdade é que a tarde começou com o palco Sunset lotado como não se tinha visto até então. O Matanza se apresentou ao lado de B Negão já diante de um mar vestido de preto. A aceitação se repetiu nos shows seguintes. Acompanhado pela ex-vocalista do Nightwish, Tarja Turunen, o Angra tocou para tanta gente que o telão do palco mundo precisou retransmitir as imagens. O resto da Cidade do Rock parecia vazio.
Daí o Gloria entrou em cena e provou ser um equívoco na escalação. A pose heavy metal artificial não convenceu e a banda brasileira recebeu as primeiras vaias do festival. O público virou de costas e foi conferir o Sepultura, incrivelmente colocado no palco secundário. O espetáculo que foi a apresentação com o grupo percussivo francês Tambours du Bronx – com uma participação especial de Mike Patton em "Roots Bloody Roots" e até fã tirando a roupa – provou que os organizadores fizeram um erro de avaliação crasso.
Desconhecido, o Coheed and Cambria ao menos não fez feio. E então o Motörhead, liderado pelo lendário Lemmy, deu uma aula de rock 'n' roll, num show impecável. Na sequência, o Slipknot tirava da caixa seu show de horrores, enquanto uns poucos alheios se atiravam na tenda eletrônica. Por fim, o Metallica encerrou a noite reverenciado por uma multidão apaixonada e metralhando com um som alto, bem alto. Que há muito, aliás, havia esvaziado a área vip e os camarotes: as celebridades nem deram as caras.
Na infra-estrutura, o problema do domingo ficou por conta dos banheiros. Se nos primeiros dias eles se mantiveram em bom estado, a situação tornou-se calamitosa rumo ao final. O sistema de esgoto criado para o festival não deu conta da vazão e transbordou. O resultado foram poças de urina perto dos sanitários, que começaram aparecendo na sala da imprensa e se espalharam rapidamente. Por conta disso, o Rock on Rio literalmente mudou de ares – para muito pior. O público, no embalo, perdeu os pudores e começou a usar qualquer cantinho como mictório.
Ajustes e mais shows
Para a segunda parte do festival, que recomeça na quinta-feira (29) com Stevie Wonder como atração principal, além de reformular os esgotos seria preciso reforçar o número de funcionários nas praças de alimentação. As filas quilométricas para comprar comida e bebida – houve quem ficasse mais de uma hora esperando para pagar preços caríssimos – foram apontadas pela própria organizadora do evento, Roberta Medina, como um dos pontos a serem melhorados.
Da mesma forma a segurança. O arrastão no show de Claudia Leitte, logo no primeiro dia, deixou claro que os criminosos entraram no Rock in Rio dispostos a mostrar profissionalismo. O registro de furtos e extravios aumentou no dia seguinte e há diversos relatos de assalto à mão armada nos arredores da Cidade do Rock. Não é difícil encontrar alguém que tenha uma má experiência para contar.
Entre os pontos positivos, está a criação da Rock Street, espaço com boa trilha sonora e fartura de opções gastronômicas. Internamente, a organização da Cidade do Rock surpreende, pela disposição dos estandes, dos palcos, os brinquedos – sempre com filas monstruosas, elas de novo – e pela qualidade do som, só prejudicado quando as atrações dos palcos Sunset e Mundo se sobrepõem, o que não aconteceria se não fossem os atrasos. Outra boa ideia foram os chafarizes colocados próximos à entradas: ligados somente na sexta-feira, único em que o sol apareceu, revelaram-se certeiros para refrescar o público.
Dos shows, o terceiro dia foi quem se saiu melhor, com o sábado apagado e uma sexta-feira com pontos altos e outros nem tanto – saiba quem se saiu bem e quem decepcionou. Para a segunda etapa, as perspectivas são boas: há Stevie Wonder, Shakira, Joss Stone, Coldplay, Jamiroquai, System of a Down e Guns N' Roses, todas atrações muito esperadas. É torcer para que dê para ver tudo do melhor jeito, o mundo melhor de quem vai do festival.
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