Sob forte esquema de segurança após alertas de uma possível nova conspiraçã da rede terrorista Al-Qaeda, os EUA lembraram neste domingo o décimo aniversário dos ataques em que 19 terroristas usaram quatro aviões para atacar as Torres Gêmeas, em Nova York, o Pentágono, em Washington, e que, confrontados pelos passageiros, causaram a queda de uma aeronave na Pensilvânia.
peça central dos eventos pelo décimo aniversário do 11 de Setembro ocorreu no Marco Zero (onde ficavam as Torres Gêmeas do World Trade Center), em Nova York, onde foi inaugurado um memorial em homenagem às vítimas. Além dela, houve numerosas celebrações em outras cidades americanas, com os parentes dos quase 3 mil mortos reunidos nos locais dos ataques, que mudaram os EUA e o mundo e causaram as guerras no Afeganistão e Iraque. Houve também cerimônias em outros países, incluindo a de soldados americanos no Afeganistão.
No Marco Zero, o presidente dos EUA, Barack Obama, e a primeira-dama Michelle deram início aos eventos deste domingo às 8h40 local (9h40 em Brasília). Em sua fala, Obama citou o Salmo 46, invocando a presença Dele como uma inspiração para superar o sofrimento.
"Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Portanto, não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se projetem para o meio dos mares. Fiquem serenos, e saibam que sou Deus", citou o líder americano.
O presidente já tinha utilizado essa citação na cerimônia para homenagear as vítimas de um tiroteio em Tucson, Arizona, que feriu a democrata Gabrielle Giffords e deixou outros seis mortos, incluindo a menina Christine Taylor Green, nascida precisamente em 11 de setembro de 2001.
Com o semblante sério, o líder americano continuou recitando o salmo: "Bramam nações, reinos se abalam; ele levanta a sua voz, e a terra se derrete. O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio." Em uma entrevista divulgada pela NBC antes dos eventos no Marco Zero, Obama afirmou que os ataques do 11 de Setembro não destruíram o caráter e os valores dos EUA.
Milhares se juntaram em uma ensolarada manhã de domingo em luto onde, um dia, erguiam-se as torres do WTC. Com a segurança reforçada e sem tráfego de veículos, houve um fúnebre silêncio no lugar em que, há uma década, os dois arranha-céus de 110 andares desabaram após serem atingidos por aviões sequestrados, espalhando uma nuvem de poeira no sul de Manhattan.
A cerimônia - que teve gaita de foles, vozes de jovens cantando o Hino Nacional e bombeiros segurando uma bandeira americana que foi retirada do Marco Zero - provocou lágrimas. Membros das famílias vestiram camisetas com os rostos dos mortos, levaram fotos, flores e bandeiras em um momento de emoção.
Após a breve citação do presidente americano, que durante a cerimônia ficou com Michelle, o ex-presidente George W. Bush (2001-2009), e a ex-primeira-dama Laura atrás de uma proteção à prova de balas, começou a leitura de 2.983 nomes - referentes aos 2.977 mortos em Nova York, Washington e Pensilvânia no 11 de Setembro e a seis no primeiro ataque contra o WTC, com um carro-bomba, em 1993. O total não i
Previamente à leitura dos nomes, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, foi o primeiro a falar sobre os ataques que mudaram os EUA e o mundo, lembrando que as vítimas "eram nossos vizinhos, amigos, mulheres e parentes". "Dez anos se passaram desde que um dia perfeito e ensolarado se tornou a mais sombria das noites," afirmou Bloomberg. "Desde então, vivemos na claridade e na sombra, e embora não seja possível esquecer o que aconteceu aqui, podemos ver que as crianças que perderam seus pais cresceram para ser jovens adultos, netos nasceram e bons trabalhos e serviços públicos criaram raízes para honrar aqueles que amávamos e perdemos."
inclui os 19 terroristas a bordo das aeronaves em 2001.
Após seu pronunciamento, os presentes observaram o primeiro minuto de silêncio pelas vítimas às 8h46 (9h46 em Brasília), horário do primeiro ataque, quando o voo 11 da American Airlines atingiu a Torre Norte do WTC. Intercalada com poemas, orações, mas sem celebrações religiosas, a leitura dos nomes das vítimas também foi interrompida no horário exato do segundo ataque, lançado com o voo 175 da United Airlines contra a Torre Sul às 9h03 locais; do terceiro ataque com o voo 77 da American Airlines contra o Pentágono, às 9h37; dos colapsos da Torre Sul, às 9h59, e da Torre Norte, às 10h28; e da queda do voo 93 da United Airlines em Shanksville, Pensilvânia, às 10h03.
Bush, que era presidente dos EUA na época dos ataques, leu uma carta de Abraham Lincoln (1861-1865) para uma mulher que perdeu seus cinco filhos na Guerra Civil dos EUA. "Sinto quão fraca e infrutífera deve ser qualquer palavra minha para tentar consolar uma perda tão devastadora", leu Bush, citando Lincoln. "Mas não posso evitar de apresentar-lhe o consolo que pode ser encontrado no agradecimento da república pela qual eles morreram para salvar."
Muitos choraram quando os nomes de seus parentes foram lidos, por esposas e maridos, pais, mães, irmãs, irmãos e filhos. "Não paro de ter saudades de meu pai. Ele era demais," afirmou Peter Negron, que era apenas uma criança quando seu pai, Pete, foi morto em uma das torres. "Gostaria que meu pai estivesse aqui para me ensinar a dirigir, como pedir para uma garota sair comigo e para ver me formando no colégio - e uma centena de outras coisas que não consigo nem começar a nomear."
Depois da leitura dos nomes, os parentes das vítimas visitaram o novo memorial no Marco Zero. Muito esperado, esse espaço paisagístico de três hectares será aberto ao público a partir de segunda-feira. Com mais de 200 castanheiras, possui duas grandes fontes, com as paredes de água fluindo sem parar. Foram erguidas no lugar exato onde estavam as torres. O nome de cada vítima está inscrito em seu entorno.
Pela primeira vez, parentes viram o memorial e tocaram os nomes de seus entes queridos gravados ali. Alguns deixaram flores, outros pequenos ursinhos de pelúcia. Alguns usaram lápis para raspar os nomes em papel, outros tiraram fotografias.
Perto do memorial está sendo levantada a principal torre do novo complexo, o One World Trade Center, que alcançará 1.776 pés (541 metros), o futuro edificio mais alto dos EUA. Sua altura, em pés, corresponde ao ano da independência americana.
Outras cerimônias
Em Shanksville, Pensilvânia, centenas compareceram às 9h30 local (10h30 de Brasília) a uma cerimônia em memória das vítimas do voo 93 da United Airlines. Obama foi a Shanksville após a cerimônia no memorial de Nova York para depositar uma coroa de flores no local da queda do avião, único que não chegou ao alvo dos terroristas - o Capitólio (Congresso americano) ou a Casa Branca, ambos em Washington -, porque os passageiros se organizaram contra os sequestradores.
No sábado, Bush, seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001), e o vice-presidente Joe Biden participaram no local de uma cerimônia em homenagem aos 40 passageiros e tripulantes do voo 93. "A decisão deles custou suas vidas", mas em troca "hoje há americanos que estão vivos graças ao que decidiram fazer, e por isso lhes somos eternamente gratos", declarou Bush.
Juntamente com o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mike Mullen, e o secretário de Defesa americano, Leon Panetta, o vice Biden compareceu neste domingo à solenidade no Pentágono, onde Obama esteve posteriormente às 15h30 (16h30 de Brasília) para depositar uma coroa de flores.
Em seu pronunciamento, o vice Biden reiterou o poder de recuperação do povo americano. "Apesar de toda a dor, de todo o sofrimento, nós podemos olhar para o céu e agradecer, pois não há uma só tragédia que os americanos não tenham conseguido superar." O vice de Obama relembrou uma frase de sua mãe. "Minha mãe costumava dizer que há coragem em cada coração. E, um dia, ela será somada", finalizou.
Ao todo, 184 pessoas morreram quando o voo 77, o terceiro sequestrado pelos terroristas da Al-Qaeda, colidiu contra um dos setores do Departamento de Defesa às 9h37 locais (10h37 de Brasília). A banda de música da Marinha interpretou o hino "Amazing Grace" após o minuto de silêncio absoluto em lembrança dos mortos.
Em Washington, durante "Um Concerto pela Esperança", último evento que marcou o décimo aniversário dos ataques, Barack Obama voltou a exaltar a "união" do país. "Hoje vale a pena lembrar o que que não mudou. Nosso caráter como nação não mudou, nossa fé em Deus e uns nos outros, isso não mudou. Nossa crença na América", afirmou. Obama destacou a palavra "unidos", de Estados Unidos da América, e pediu que os americanos se dediquem "aos ideais que nos definem como nação".
Na véspera do aniversário dos ataques, Obama pediu união nacional e um olhar para um futuro compartilhado. "É claro para todo o mundo ver - os terroristas que nos atacaram naquela manhã de setembro não são páreo para o caráter de nosso povo, a resiliência de nossa nação ou a força de nossos valores", afirmou. "Ao olhar para o futuro, seguiremos demonstrando que os terroristas que nos atacaram são impotentes frente à coragem e resistência do povo americano", afirmou.
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