Letícia Schandert Tonietto, de 12 anos, mora no Alto da Lapa e estudou desde a pré-escola no Colégio Santa Cruz, um dos mais tradicionais de São Paulo. Luíza Pereira dos Santos, de 13 anos, mora em Osasco e sempre frequentou a escola pública de seu bairro. Nunca haviam se visto até 2010, quando entraram na mesma escola, a Germinare.
'Unimos pobres e ricos porque não é a classe econômica que define o público que queremos', explica Vivianne Batista, diretora do Instituto JBS, o braço social do Frigorífico JBS, mantenedor da escola.
Na escola localizada no Jaraguá, na zona norte de São Paulo, 60% dos alunos saíram de escolas públicas e 40%, de particulares, uma das características que a distingue de outras também mantidas pela iniciativa privada: o comum é que essas instituições priorizem estudantes da rede pública.
O porcentual não foi estabelecido previamente. É resultado de um processo de seleção que não considera apenas os conhecimentos escolares, mas também o potencial cognitivo e características pessoais como disciplina, criatividade e capacidade para trabalhar em equipe.
Atração. O chamariz que fez com que pais de estudantes de colégios particulares se interessassem - além da isenção de mensalidade, é claro - foi o projeto pedagógico.
Os 270 alunos dos 6.º, 7.º e 8.º anos estudam em período integral: entram às 7h15 e saem às 17 horas.
Além das cargas horárias de matemática e língua portuguesa serem superiores à exigida pelo Ministério da Educação (MEC), o currículo prioriza conhecimentos mais requisitados pelo mercado de trabalho, como informática e inglês. São quatro aulas do idioma por semana e, no fim do ensino fundamental, no 9.º ano, todos devem fazer um exame de proficiência.
Já as aulas de informática não se restringem a ensinar o uso de aplicativos. O conteúdo inclui programação. Mas o que mais chama a atenção dos estudantes são as aulas de empreendedorismo. 'É bom porque é o que a gente vai usar na prática. Aprendi, por exemplo, como administrar meu próprio negócio. Vai que eu me torne uma empresária', afirma Beatriz Nardi, de 13 anos, aluna do 8.º ano do fundamental.
Para aqueles que não pretendem se tornar empreendedores, o colégio investe no preparo para as seleções de emprego. Neste semestre, por exemplo, os alunos do 8.º ano concorrem a uma vaga fictícia na JBS. Aprenderam a fazer um currículo, a se comportar em uma entrevista de trabalho e a participar de uma dinâmica de grupo.
Troca. O currículo que mescla a formação tradicional com experiências práticas de trabalho é muito valorizado, principalmente por aqueles que saíram da rede pública, como Giovanna Teixeira Soares, de 13 anos. Na escola onde estudava, conta, o ensino era bom, mas seu aprendizado esbarrava em dois problemas: o desinteresse dos alunos e a falta dos professores. 'Se o professor adoecia, a gente ficava sem aula. Mas muitos não achavam ruim porque não queriam aprender.'
Com a troca de escola, Giovanna gasta no trânsito uma hora na ida e outra na volta, mas afirma que a distância compensa. 'Aqui, todos querem aprender'
Mesmo porque, na Germinare, aqueles estudantes que não mostram interesse não conseguem permanecer. A nota média de provas e trabalhos é sete e a escola não aceita reprovação. Quem não consegue a nota mínima para avançar de série tem de sair da escola.
Grife. O rigor com os alunos é uma das formas de se tornar um centro de excelência que prepare estudantes para os vestibulares mais concorridos. A outra estratégia do colégio foi investir no corpo docente.
A diretora, Myriam Tricate, trabalha no Magno, um dos colégios paulistanos mais bem classificados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O currículo dos professores também ostenta as grifes educacionais: a maior parte leciona ou já passou por colégios como Bandeirantes, Porto Seguro, Pueri Domus e Rio Branco. Para mantê-los, os salários são atrativos. A escola paga R$ 38 pela hora/aula. O salário de um professor que leciona o dia todo é de cerca de R$ 9 mil mensais.
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