Diretas Já e eleição de Tancredo foram alvo de espionagem

quinta-feira, 4 de agosto de 2011


O movimento pelas Diretas Já, em 1984, e a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, em 1985, considerados marcos do fim da ditadura militar (1964-1985) e início da democracia brasileira, foram alvo de espionagem da Polícia Civil de São Paulo.
Documentos sigilosos disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado mostram que o extinto Departamento de Comunicação Social (DCS) da Polícia Civil mobilizou grande aparato de homens e recursos para monitorar todos os passos e personagens centrais do processo de abertura política, inclusive infiltrando agentes em atos e comicios.
Nem o governador do Estado na época, Franco Montoro, um dos principais articuladores do movimento pelas Diretas Já e chefe da polícia, escapou da espionagem do DCS. Partidos políticos, artistas, religiosos, jornalistas e até a Gaviões da Fiel, torcida organizada do Corinthians, também foram vigiados pelos arapongas.
“As facções denominadas Gaviões da Fiel e Coração Corintiano, torcidas organizadas do E.C. Corinthians Paulista, também participaram da passeata trazendo uma bateria completa e cerca de 300 participantes empunhavam bandeiras do clube e faixas pedindo Diretas Já”, diz o relatório sobre o grande comício realizado no Vale do Anhangabaú no dia 16 de abril de 1984 e que reuniu um milhão e meio de pessoas.
O documento mostra que a polícia acompanhava com agentes infiltrados cada passo das manifestações. "O DCS esteve presente em todas as fases da passeata-comício (...) Para tanto o DCS manteve seus delegados e agentes estrategicamente colocados”, diz o texto.
Os relatórios detalhavam a atuação de cada um dos participantes destacando trechos de discursos e até as músicas interpretadas por cantores como Beto Guedes e Fafá de Belém e a Orquestra Sinfônica de Campinas.
Um dos trechos registra a célebre frase de Ulysses Guimarães. “Nós sabemos que as eleições diretas não resolvem tudo, mas também sabemos que eleições indiretas não resolvem nada”. Os relatórios são acompanhados de dezenas de fotos feitas por policiais à paisana que documentavam a movimentação de políticos e jornalistas no palanque.
No comício pró-Tancredo realizado no dia 6 de dezembro de 1984 na Praça da Sé, a Polícia Civil mobilizou dez delegados, 86 agentes e até um helicóptero.
O trabalho resultou em um relatório de três páginas no qual cada participante é citado nominalmente com um pequeno resumo de sua particiação. Entre eles Fernando Henrique Cardoso, Osmar Santos, Ney Matogrosso, Juca de Oliveira, Raul Cortes, Olavo Setúbal, Mário Covas, Maytê Proença, Orestes Quércia, Carlos Alberto Riccelli, Maria Zlda, Beto Guedes, Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães, Beth Carvalho, Leonel Brizola, José Sarney, Montoro, Ulysses Guimarães, Fafá de Belém e o próprio Tancredo.
política. Montoro, embora vigiado, é chamado de “o governador de todos os paulistas” pelo agente que aproveita para reclamar das vaias destinadas ao governador pelos militantes do PT.
Em outro trecho, os agentes do DCS eleogiam a cobertura ampla feita pela imprensa, com destaque para o Jornal da Tarde comandado à época por Fernando Mitre (citado nominalmente) pela “cobertura jornalística perfeita em quase todos os sentidos”.
A simpatia do autor do relatório pela causa das Diretas Já está explícita no trecho final do documento. “Como bem ficou definido, o povo parece que entendeu o caráter suprapartidário que vêm tendo as manifestações pró-diretas e uniu-se em torno de um ideal de forma definitiva.”
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